O 10º mandamento, “Não cobiçar as coisas alheias”, é uma das advertências mais profundas de Deus para o coração humano.
Ele não apenas nos instrui a não roubar ou tomar o que pertence ao outro, mas também nos convida a refletir sobre os desejos internos, aqueles que nascem em nosso coração.
O que significa, então, não cobiçar as coisas alheias? Como podemos viver esse mandamento no nosso dia a dia?
Vamos entender melhor o que este mandamento nos ensina e como ele pode transformar nossa vida espiritual.
O 10º mandamento nas Escrituras
O último dos dez mandamentos, como vemos no livro do Êxodo, é claro e direto: “Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo.” Essa ordem de Deus destaca a importância de respeitar o que pertence aos outros.
Cobiçar não é apenas um desejo pelo que é material, mas também um desejo pelo que é emocional ou relacional. Portanto, ao não cobiçar as coisas alheias, estamos protegendo tanto o nosso coração quanto a nossa relação com os outros.
Esse mandamento aparece também no livro de Deuteronômio, como uma repetição importante para que o povo de Israel nunca perdesse de vista a necessidade de respeitar as propriedades e a dignidade dos outros. Além disso, no Novo Testamento, Jesus expande a compreensão de cobiça.
Ele nos alerta não apenas sobre os atos de desejo, mas sobre os pensamentos e intenções impuras do coração, enfatizando a importância de não cobiçar as coisas alheias.
O que a Igreja ensina sobre não cobiçar as coisas alheias
A Igreja nos ensina que a cobiça é um pecado que se origina de desejos desordenados, que nos levam a querer o que pertence ao próximo.
Mas por que isso é errado?
Não cobiçar as coisas alheias não é apenas um pecado contra a justiça, é também um pecado contra a caridade, pois atenta contra a dignidade do outro e gera ressentimento e inveja em nosso coração.
São Tomás de Aquino, um dos maiores teólogos da Igreja, explica que a cobiça é uma das formas de concupiscência — o desejo desordenado que nos leva ao pecado.
O que precisamos entender é que a cobiça não se limita apenas a objetos materiais.
Ela pode se estender às relações interpessoais, como desejar a vida ou o sucesso de outra pessoa, em vez de alegrar-se com suas conquistas.
Esse tipo de desejo pode gerar em nós inveja, um vício que a Igreja condena duramente, e que está intimamente ligado ao ato de não cobiçar as coisas alheias.
Como viver o mandamento de não cobiçar as coisas alheias na prática
Viver o 10º mandamento exige uma vigilância constante sobre os nossos desejos. A cobiça começa no coração, com pensamentos e desejos que não são controlados.
Para evitá-la, devemos cultivar virtudes como a humildade, a gratidão e o contentamento com o que temos. Isso nos ajuda a reconhecer que as coisas materiais não são o centro de nossa vida e que nossa felicidade não depende da posse das coisas dos outros.
Portanto, devemos estar atentos à tendência de não cobiçar as coisas alheias, para manter nossa paz interior e a harmonia em nossos relacionamentos.
Uma maneira prática de aplicar este mandamento é refletir sobre nossas ações e intenções. Pergunte-se: estou desejando algo que pertence ao outro de forma justa? Ou estou sendo movido por um desejo egoísta que prejudica o bem-estar do próximo?
A resposta a essas perguntas pode nos ajudar a discernir quando estamos entrando no caminho da cobiça e quando estamos seguindo a vontade de Deus.
A pobreza de coração e o desapego
O 10º mandamento também nos ensina sobre a pobreza de coração, que é uma virtude fundamental no cristianismo.
Jesus nos ensina que devemos ter o coração desapegado das riquezas e do poder. Ele afirma, nas bem-aventuranças, que os “pobres de espírito” são bem-aventurados, porque eles buscam primeiro o Reino de Deus, não as riquezas materiais.
Esse desapego é essencial para alcançar o Reino dos Céus e viver em paz com Deus e com os outros. Viver sem cobiçar as coisas alheias é parte fundamental dessa virtude de pobreza de coração.
O desapego não significa que devamos abandonar tudo o que temos, mas que devemos ser capazes de viver com humildade e reconhecer que tudo o que possuímos vem de Deus.
Devemos, portanto, ser gratos por nossas bênçãos e usar o que temos para o bem dos outros, sem desejar ou cobiçar o que pertence ao próximo.
Superando a cobiça com a graça divina
É importante lembrar que, sozinhos, não conseguimos superar a cobiça.
Precisamos da graça de Deus para transformar nossos corações e nos ajudar a viver segundo o Seu plano. A oração, os sacramentos, e a prática das virtudes são ferramentas essenciais para fortalecer nossa luta contra a cobiça.
A Eucaristia, por exemplo, é um alimento espiritual que nos fortalece para resistir às tentações do coração.
Portanto, quando nos sentimos atraídos por desejos desordenados, devemos recorrer à oração e pedir ao Espírito Santo que nos ajude a direcionar nossos afetos para Deus. Ao fazer isso, experimentamos uma paz que vai além das posses materiais e encontramos verdadeira felicidade em Deus.
Santo Tomás de Aquino e o entendimento do 10º mandamento
Santo Tomás de Aquino, ao explicar o 10º mandamento, aponta para a concupiscência, a inclinação desordenada para o desejo, como a raiz da cobiça. Ele ensina que, após o pecado original, a natureza humana foi corrompida e a concupiscência se tornou uma parte da nossa experiência.
Por isso, ele enfatiza a importância de evitar as ocasiões que possam estimular esses desejos desordenados, como más amizades, pensamentos impuros, e práticas de luxúria ou ganância.
Para vencer a cobiça, Santo Tomás sugere a prática da mortificação da carne e o cultivo de atividades lícitas que ocupem nossa mente e nosso tempo de forma produtiva.
A oração também é um recurso indispensável, pois somente com a ajuda divina conseguimos manter nossos corações livres do desejo de possuir o que não nos pertence.
Em resumo, o 10º mandamento nos desafia a viver com um coração puro, livre da cobiça e da inveja.
Ao seguir esse mandamento, somos chamados a transformar nossos desejos, a valorizar o que temos e a respeitar os bens dos outros.
A verdadeira felicidade não está nas riquezas ou no que possuímos, mas em nossa relação com Deus e na busca do Seu Reino.
Sou católico, batizado em 2022, e escrevo sobre tudo o que aprendo nas pesquisas que faço em torno da Igreja Católica Apostólica Romana.