A Bíblia é a coleção de textos sagrados mais influente da história, servindo como base para a fé e prática de bilhões de pessoas ao redor do mundo. No entanto, você sabia que o número de livros que compõem a Bíblia varia entre diferentes tradições religiosas? Neste artigo, vamos explorar quantos livros tem a Bíblia em diferentes denominações, compreender as razões históricas e teológicas por trás dessas variações e discutir como essas diferenças impactam a compreensão das Escrituras.
A Bíblia Hebraica (Tanakh)
Para o judaísmo, a Bíblia é conhecida como Tanakh, um acrônimo que representa suas três seções principais: Torá (Lei), Nevi’im (Profetas) e Ketuvim (Escritos). O Tanakh contém 24 livros, que correspondem aos textos sagrados do judaísmo. Essa contagem resulta da maneira como os livros são organizados e agrupados:
- Torá: Composta por cinco livros (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), também conhecidos como Pentateuco.
- Nevi’im: Inclui os Profetas Anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e os Profetas Posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas Menores, considerados um único livro).
- Ketuvim: Engloba escritos poéticos e sapienciais (Salmos, Provérbios, Jó), os Cinco Rolos (Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester) e outros livros históricos (Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas).
Apesar de o Tanakh ter 24 livros, o conteúdo é similar ao do Antigo Testamento cristão, mas sem os livros deuterocanônicos (que veremos adiante). A diferença numérica se deve ao fato de que alguns livros que são separados na tradição cristã são combinados no Tanakh, como 1 e 2 Samuel, que são considerados um único livro.
Quantos livros tem a Bíblia Protestante
As igrejas protestantes adotam uma Bíblia com 66 livros, sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento. O cânon protestante do Antigo Testamento segue o cânon hebraico, omitindo os livros deuterocanônicos que estão presentes na Bíblia Católica. Os 39 livros do Antigo Testamento protestante são:
1. Gênesis | 14. 2 Crônicas | 27. Daniel |
2. Êxodo | 15. Esdras | 28. Oséias |
3. Levítico | 16. Neemias | 29. Joel |
4. Números | 17. Ester | 30. Amós |
5. Deuteronômio | 18. Jó | 31. Obadias |
6. Josué | 19. Salmos | 32. Jonas |
7. Juízes | 20. Provérbios | 33. Miquéias |
8. Rute | 21. Eclesiastes | 34. Naum |
9. 1 Samuel | 22. Cântico dos Cânticos | 35. Habacuque |
10. 2 Samuel | 23. Isaías | 36. Sofonias |
11. 1 Reis | 24. Jeremias | 37. Ageu |
12. 2 Reis | 25. Lamentações | 38. Zacarias |
13. 1 Crônicas | 26. Ezequiel | 39. Malaquias |
O Novo Testamento é idêntico nas tradições protestante e católica, com 27 livros que narram a vida de Jesus Cristo e os ensinamentos dos apóstolos.
Quantos livros tem a Bíblia Católica
A Bíblia utilizada pela Igreja Católica possui 73 livros, sendo 46 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento. A diferença em relação ao cânon protestante está nos sete livros deuterocanônicos adicionais no Antigo Testamento:
- Tobias
- Judite
- Sabedoria
- Eclesiástico (também conhecido como Sirácida)
- Baruc
- 1 Macabeus
- 2 Macabeus
Além desses, há adições aos livros de Ester e Daniel que não estão presentes na Bíblia protestante. A Igreja Católica baseia-se na Septuaginta, a tradução grega das Escrituras Hebraicas realizada entre os séculos III e II a.C. A Septuaginta era amplamente utilizada no período do Novo Testamento, especialmente entre os judeus da Diáspora.
Quantos livros tem a Bíblia Ortodoxa
As igrejas ortodoxas orientais têm um cânon bíblico que inclui todos os livros da Bíblia Católica, além de outros textos, totalizando até 81 livros, dependendo da tradição específica. Por exemplo, a Igreja Ortodoxa Etíope inclui livros como:
- 1 Esdras
- 2 Esdras
- Oração de Manassés
- 3 Macabeus
- 4 Macabeus
- Salmo 151
- Livro de Enoque
- Livro dos Jubileus
Esses textos adicionais são considerados inspirados e fazem parte da tradição litúrgica e teológica dessas igrejas.
Razões Históricas para as Diferenças
As diferenças no número de livros da Bíblia entre as tradições religiosas têm origens históricas e teológicas:
- Uso da Septuaginta: A Septuaginta foi amplamente utilizada pelos primeiros cristãos, incluindo os autores do Novo Testamento, que frequentemente citavam essa versão. Ela incluía os livros deuterocanônicos, que foram adotados pela Igreja Católica.
- Cânon Hebraico: Por volta do século I d.C., após a destruição do Templo de Jerusalém, os judeus começaram a definir o seu cânon bíblico, culminando no que é conhecido como Texto Massorético, que não inclui os livros deuterocanônicos.
- Reforma Protestante: No século XVI, os reformadores protestantes optaram por seguir o cânon hebraico para o Antigo Testamento, excluindo os livros deuterocanônicos por não os considerarem inspirados no mesmo nível que os demais. Martinho Lutero, por exemplo, os colocou em uma seção separada, denominada “Apócrifos”.
- Concílio de Trento: Em resposta à Reforma, a Igreja Católica reafirmou no Concílio de Trento (1546) o cânon que inclui os livros deuterocanônicos, declarando-os como parte integrante das Escrituras.
Impacto das Diferenças no Estudo da Bíblia
As variações no número de livros afetam a interpretação e a ênfase teológica em diferentes tradições:
- Doutrinas e Práticas: Alguns ensinamentos específicos têm base nos livros deuterocanônicos. Por exemplo, a doutrina católica sobre o Purgatório é apoiada em passagens de 2 Macabeus.
- Liturgia e Leitura: Os textos adicionais são usados nas leituras litúrgicas e influenciam hinos, orações e práticas devocionais nas igrejas que os aceitam.
- Estudo Acadêmico: Para estudiosos, a compreensão das diferentes tradições canônicas é essencial para o estudo comparativo das Escrituras e da história das religiões.
O Novo Testamento e a Unanimidade entre as Tradições Cristãs
Uma nota importante é que todas as principais tradições cristãs concordam quanto aos 27 livros do Novo Testamento. Isso inclui os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), Atos dos Apóstolos, as Epístolas Paulinas e Gerais, e o Apocalipse de João. Essa unanimidade reflete a centralidade dos ensinamentos de Jesus Cristo e dos apóstolos para a fé cristã.
O Significado dos Livros Deuterocanônicos
Para as tradições que os aceitam, os livros deuterocanônicos têm grande valor:
- Histórico: Fornecem contexto para o período intertestamentário, particularmente a resistência judaica durante a ocupação helenística.
- Sapiencial: Livros como Sabedoria e Eclesiástico contêm ensinamentos éticos e morais.
- Teológico: Abordam temas como a imortalidade da alma, a intercessão dos santos e a importância da caridade.
Conclusão
Então, quantos livros tem a Bíblia? A resposta varia:
- Judaísmo: 24 livros (Tanakh)
- Protestantismo: 66 livros (39 no Antigo Testamento + 27 no Novo)
- Catolicismo: 73 livros (46 no Antigo Testamento + 27 no Novo)
- Ortodoxia: Até 81 livros, dependendo da tradição
Compreender essas diferenças é fundamental para o diálogo inter-religioso e para um estudo mais profundo das Escrituras. Independentemente das variações, a Bíblia continua sendo uma fonte inesgotável de fé, inspiração e orientação moral para bilhões de pessoas.
Reflexão Final
O estudo das diferentes composições bíblicas nos convida a uma apreciação mais profunda da rica herança religiosa e cultural que a Bíblia representa. Reconhecer as distintas perspectivas canônicas nos ajuda a respeitar as tradições alheias e a enriquecer nossa própria compreensão espiritual.
Sou católico, batizado em 2022, e escrevo sobre tudo o que aprendo nas pesquisas que faço em torno da Igreja Católica Apostólica Romana.